Loja pioneira de cultivo fecha as portas após 8 anos e deixa legado na Bahia
Pioneira em Salvador, a Hortus Cultivo Urbano ajudou famílias a produzir remédios à base de cannabis e se despede em meio à incerteza sobre a legalização
 Ricardo Cavalcante Teixeira, fundador da Hortus Cultivo Urbano | Reprodução/Jornal Correio/Arison Marinho              De acordo com reportagem publicada pelo jornalista Moyses Suzart no jornal baiano Correio, a Hortus Cultivo Urbano, empreendimento inovador criado em Salvador, anunciou o encerramento de suas atividades após oito anos de atuação. A loja foi uma das primeiras no estado a oferecer orientação e insumos para pessoas interessadas em cultivar cannabis medicinal e produzir seus próprios remédios em casa. A iniciativa nasceu com esperança de que o país avançasse na regulamentação do uso terapêutico da planta, expectativa que, até hoje, não se concretizou.
Um oásis de informação em meio ao preconceito
Durante quase uma década, a Hortus foi um ponto fora da curva no cenário baiano. Em meio ao preconceito, à ausência de regras claras e à instabilidade política, o espaço se consolidou como centro de informação, acolhimento e formação para quem buscava cultivar cannabis de maneira legal e responsável.
Criada por Ricardo Cavalcante Teixeira, a loja desempenhou um papel educativo fundamental, ajudando famílias a compreender os processos de cultivo e extração medicinal, sempre dentro dos limites permitidos pela Justiça.
“Quando começamos, não havia nada parecido em Salvador nem no Nordeste”, relata Ricardo. “Na época, existiam pouco mais de uma dezena de lojas no país, concentradas em São Paulo, Rio e Curitiba. A Hortus nasceu para atender quem precisava produzir seu próprio medicamento, sem depender dos altos preços das farmácias.”
Alternativa mais acessível ao alto custo do tratamento
Enquanto um frasco de óleo de canabidiol pode ultrapassar R$ 1.800 nas farmácias de Salvador, o cultivo doméstico autorizado pela Justiça permite produzir o mesmo medicamento por cerca de R$ 50. Essa economia transformava a rotina de quem dependia do tratamento diário.
A Hortus fornecia equipamentos, adubos, estufas e orientação técnica para garantir o cultivo seguro, controlado e voltado à finalidade terapêutica.
“Muita gente chegava aqui sem saber nem germinar uma semente”, conta Ricardo. “Nosso papel era ensinar o básico, formar pessoas e ajudar famílias a produzirem seu próprio remédio.”
Desafios econômicos e regulamentação indefinida
Mesmo com uma base fiel de clientes, a sustentabilidade financeira do negócio foi comprometida. Segundo Ricardo, o fechamento é resultado de vários fatores: instabilidade de mercado, falta de regulamentação clara e aumento da concorrência após a pandemia.
“Durante sete anos, não tivemos concorrência em Salvador. Depois, o número de lojas explodiu. O mercado se voltou para o agro e as grandes farmacêuticas. Quando o lucro começa a empatar e o investimento pessoal pesa, é hora de repensar”, afirma.
Além das dificuldades econômicas, a indefinição política sobre o tema pesa sobre o setor. O projeto de regulamentação do cultivo medicinal que tramita em Brasília tende a favorecer grandes empresas, deixando de fora produtores individuais.
“O texto em discussão praticamente exclui a pessoa física. Para plantar, mesmo que seja para uso próprio, é preciso autorização judicial. Como os pequenos vão competir com os grandes?”, questiona o empresário.
Últimos dias e legado deixado
A Hortus encerra as atividades com promoções de até 70% em estufas, fertilizantes e outros produtos. O estabelecimento nunca comercializou sementes nem a planta em si, todos os equipamentos também serviam para o cultivo de outras espécies, como ervas e pimenteiras.
Loja anuncia encerramento com descontos de até 70% em estufas, adubos e equipamentos de cultivo urbano (Reprodução/Instagram/@hortus_cultivo_urbano)
O fechamento deixa uma lacuna para pacientes e famílias que dependiam do suporte da loja. Ainda assim, Ricardo acredita que o movimento iniciado pela Hortus vai continuar florescendo em novos espaços.
“Alguém mais esperançoso com a legalização vai ocupar o lugar da Hortus. Nosso legado é o conhecimento, o respeito e a autonomia das famílias. A loja pode fechar, mas a semente continua germinando”, conclui.
 

 
 
 
 
 
 
 


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