Seja bem-vindo
,04/11/2025

    • A +
    • A -
    Publicidade

    Caso Hemp Vegan: os bastidores do império de cannabis que desabou

    Investigação exclusiva do Gabiiweed.com desvenda os bastidores de uma suposta fraude em contratos que gerou prejuízo superior a R$ 6 milhões


    Caso Hemp Vegan: os bastidores do império de cannabis que desabou Quiosque Hemp Vegan | Reprodução/Instagram

    A empresa de cosméticos à base de cannabis Hemp Vegan encontra-se atualmente no epicentro de um escândalo que envolve cobranças judiciais milionárias, a suspensão de seus produtos pela Anvisa devido a publicidade enganosa e acusações de ex franqueados, que afirmam ter sido vítimas de um golpe estimado em cerca de seis milhões de reais.

    Os líderes da empresa, o casal Bárbara e Gustavo Palencia, posicionam-se como vítimas de uma campanha orquestrada por uma ex-sócia insatisfeita, conforme mensagens compartilhadas com os franqueados.

    Este não é o primeiro caso polêmico envolvendo o casal; em 2021, sua antiga empresa, a Linha Canabica da Bá, foi acusada de comercializar produtos que supostamente continham CBD, mas que, de acordo com testes colorimétricos realizados por consumidores, não possuíam nenhum traço da substância. Na ocasião, o casal também alegou estar sendo alvo de uma ação orquestrada por terceiros para prejudicá-los.

    Em uma investigação exclusiva conduzida pelo Gabiiweed.com, cinco pessoas relataram ter sido supostamente vítimas de um golpe aplicado pelo casal. Entre eles, quatro investidores e um amigo próximo, que afirmam ter visto seus investimentos desaparecerem em menos de um ano após realizarem transferências bancárias para os empresários.

    Nossa reportagem analisou documentos, confrontou endereços e informações, e apresenta um panorama detalhado do caso Hemp Vegan.

    DUAS EMPRESAS, UMA ENXURADA DE PROCESSOS JUDICIAIS

    A atuação da empresa ocorre através de dois CNPJs: a HEMP VEGAN PESQUISA E COMERCIO DE COSMÉTICOS LTDA, registrada sob o CNPJ 42.970.672/0001-70, e a Hemp Vegan Brasil Franchising Ltda, com o CNPJ 57.371.117/0001-07.

    A primeira enfrenta pelo menos nove processos referentes a cobranças de dívidas contratuais e pagamento de indenizações a consumidores apenas no estado de São Paulo.





    A segunda empresa responde a mais quatro processos de cobrança, sendo dois em São Paulo, um em Pernambuco e outro no Paraná.



    *Alberto Khzoz é um dos investidores e passou a responder processos junto da empresa e do casal. 

    Somente os dois processos que tramitam no Tribunal de Justiça de São Paulo contra a Hemp Vegan Brasil Franchising Ltda envolvem cobranças superiores a um milhão de reais, relacionados a contratos não honrados referentes aos seus estandes no evento ExpoCannabis Brasil 2024, onde a empresa atuou como patrocinadora máster.

    Em muitos desses processos, a empresa e seus líderes não conseguem ser citados oficialmente devido à falta de um endereço fixo no Brasil, o que torna os trâmites lentos e, frequentemente, sem solução, com algumas citações pendentes há mais de um ano.

    O SONHO DAS FRANQUIAS E OS CONTRATOS COM SUPOSTAS FRAUDES

    Em 2023, a Hemp Vegan iniciou uma forte campanha comercial e de marketing, divulgando números surpreendentes de vendas e engajamento no mercado canábico e nas redes sociais.

    Os planos da empresa iam além da venda de produtos ligados ao lifestyle da cannabis mediante prescrição médica ou da venda direta de cosméticos.

    O casal apresentou um modelo inovador de franquias por meio de quiosques da marca, focados em shoppings centers. A ideia foi lançada publicamente durante a primeira edição do evento ExpoCannabis Brasil, em 2023, onde a empresa recebeu o prêmio de melhor estande.

    O modelo atraiu diversos investidores, mas para concretizar o investimento no quiosque, era necessário primeiro assinar um contrato intitulado "Acordo de Reserva de Território de Unidade", no valor de R$ 60 mil.

    Nossa redação teve acesso exclusivo a dois desses contratos de reserva de território. O primeiro foi assinado em 5 de julho de 2024 para uma franquia em São Paulo, e o segundo, em 1º de novembro de 2024, para uma franquia em Curitiba.

    No contrato referente à franquia de São Paulo, a empresa consta como HEMP VEGAN PESQUISA E COMERCIO DE COSMÉTICOS LTDA, com sede na Rua Sta. Generosa, nº 48, Vila Clementino, São Paulo/SP, CEP: 04.042-010, representada por Bárbara Arranz Sanchez Palencia, com data de abertura em 3 de agosto de 2021.

    No entanto, conforme dados cadastrais da Receita Federal relativos ao CNPJ constante no contrato, a sede da empresa situa-se na Avenida Conselheiro Carrão, nº 284, Complemento: Conj. 204, CEP 03.402-000, Bairro/Distrito: Chácara California, Município: São Paulo.

    O endereço constante no contrato é residencial e foi posteriormente cadastrado como endereço de outra empresa, a Eyf Serviços Medicos LTDA (CNPJ 57.027.863/0001-70), em menos de dois meses após a assinatura do contrato de reserva.




    A franquia prevista nunca foi aberta. De acordo com o investidor, o casal apresentou sucessivos prazos para a abertura da loja, que nunca foram cumpridos. Com o vencimento do prazo, um distrato foi firmado, prometendo a devolução de cinquenta e quatro mil reais, mas nenhum valor assumido em contrato foi devolvido.

    INCONSISTÊNCIAS CONTRATUAIS E PREJUÍZOS EM SÉRIE

    O contrato de "Acordo de Reserva de Território de Unidade" para a franquia de Curitiba foi firmado com a empresa Hemp Vegan Brasil Franchising LTDA, com sede na Avenida Vereador Narciso Yague Guimaraes, nº 1145, Complemento: Sala 1703, Bairro: Centro Cívico, CEP: 08780-000, Município: Mogi das Cruzes, Estado: São Paulo, representada por Bárbara Arranz Sanchez Palencia, e com data de abertura em 20 de setembro de 2024.

    A franqueada realizou o aporte de sessenta mil reais para a reserva de território, além de uma série de outros pagamentos: fabricação do quiosque, novamente no valor de sessenta mil reais, um estoque de produtos de catorze mil reais, e taxas diversas para abertura da franquia que nunca se concretizou.

    Segundo seu depoimento exclusivo ao Gabiiweed.com, o projeto nunca foi executado, tendo recebido apenas um esboço de um projeto de quiosque localizado em Goiânia, não adaptado às suas solicitações conforme prometido.

    Ela também afirmou que nenhum dos valores enviados à empresa para a marcenaria dos quiosques foi repassado aos profissionais que supostamente os produziriam. Novamente, o casal à frente da empresa apresentou prazos sucessivos, nenhum cumprido.

    Ao final, um distrato foi firmado e a empresa prometeu devolver o valor total investido, superior a R$ 175 mil, mas não cumpriu a restituição.




    Em ambos os contratos analisados, há um erro grosseiro, que segundo especialistas consultados pelo Gabiiwee.com seria perceptível se os documentos passassem por análise ou revisão de um profissional.

    Na cláusula 4, referente à rescisão, quando trata do valor a ser devolvido, há uma divergência entre o número apresentado em porcentagem e o descrito entre parênteses, não ficando claro se a porcentagem a ser restituída ao franqueado seria de 80% ou 90%.




    Há um terceiro franqueado, que investiu em uma franquia da empresa em Goiânia, a única que efetivamente existiu através de franquia. Ele relatou ao Gabiiweed.com que efetuou o pagamento da reserva de território exigida, além do valor do quiosque, e ficou combinado que a Hemp Vegan arcaria com os aluguéis do shopping e os salários dos funcionários.

    No entanto, o casal de empresários não cumpriu com o acordado, o que resultou em uma grande dívida, forçando-o a recorrer a empréstimos para controlar a situação.

    Em um ato de "salvação" do negócio, Gustavo Palencia teria oferecido uma sociedade ao homem e também ao investidor da franquia de São Paulo.

    O contrato de sociedade para a empresa do franqueado foi assinado em 16 de setembro de 2024, e prometia a devolução do valor total do investimento acrescido de 120% do CDI às Partes no prazo de doze meses, contados a partir da data de assinatura do contrato.






    O franqueado de São Paulo afirma ter feito um aporte de R$ 100 mil reais para Gustavo, que, supostamente, não repassou o valor ao franqueado de Goiânia, que não recebeu nenhum valor prometido pelos sócios, resultando no fechamento de seu negócio e em endividamento.

    EXPANSÃO INTERNACIONAL E EMPRÉSTIMOS PESSOAIS

    Além das franquias, o Gabiiweed.com obteve com exclusividade o depoimento de uma investidora que decidiu investir em uma loja da marca na cidade de Madri, na Espanha.

    Ela relatou que seu companheiro utilizou alguns produtos da empresa, por indicação de um amigo em comum, obteve bons resultados e decidiu investir no negócio fora do país.

    Assim como os franqueados, acreditou na ideia, respaldada por um marketing forte e apelo midiático. Realizou um aporte de alto valor para a sociedade de uma empresa registrada em Madri, na Espanha, para a abertura da loja.

    No entanto, a loja nunca foi aberta, nem recebeu clientes.

    Segundo apuramos, o endereço comercial da empresa na Espanha é o mesmo da residência do casal, em uma área de alto padrão. Fotos publicadas nas redes sociais puderam comprovar que o local é onde o casal vive em Madri.

    O contrato de sociedade que o Gabiiweed.com teve acesso apresenta um outro endereço residencial vinculado ao casal.

    Uma das divergências mais relevantes entre os documentos da empresa está no nome de Gustavo Palencia. No registro público da empresa em Madri aparece o nome Gustavo Mariano Sanchez Palencia. Já no contrato assinado com os sócios, o nome é Gustavo Sanchez Palencia.






    Um quinto entrevistado pelo Gabiiweed.com relatou ter sido amigo íntimo do casal e afirmou que, em 2024, emprestou R$ 112 mil para que eles pudessem pagar o espaço reservado para a ExpoCannabis Brasil do mesmo ano, pois afirmaram que suas contas bancárias estavam “bloqueadas”.

    Segundo o relato, o casal se comprometeu a devolver o valor no prazo de dois meses, mas nunca o fez.

    Ele ainda afirmou que, após uma série de cobranças, o casal propôs um contrato de sociedade e apresentou um "Contrato de Mútuo Conversível em Participação Societária", que nunca foi assinado.

    Outros dois franqueados também relataram ao Gabiiweed.com que Gustavo Palencia chegou a pedir empréstimos pessoais, um deles de cem mil reais, que não foi feito, e outro de trinta mil reais, este último nunca devolvido ao investidor de Goiânia.

    Nossa reportagem também confirmou com duas fontes que advogados e profissionais do mercado canábico estão entre os que emprestaram valores ao casal, com a mesma alegação de supostas “contas bloqueadas”.

    REAÇÃO DO CASAL PALENCIA E TENTATIVAS DE CONTATO

    Após a suspensão da venda dos produtos cosméticos da empresa no Brasil pela Anvisa, devido a propaganda irregular de produtos controlados, franqueados e sócios lesados passaram a formar um grupo para trocar relatos sobre suas experiências. Alguns desses franqueados expuseram publicamente nas redes sociais o que teriam vivido, fazendo cobranças ao casal de empresários e referindo-se a eles como "caloteiros". 

    Como resposta, receberam mensagens consideradas de tom ameaçador e desaforado. Em uma mensagem enviada a um parente da franqueada de Curitiba, à qual tivemos acesso, a empresária Bárbara afirma: "só me falta você achar que isso vai me fazer te pagar..." e ameaçou recorrer à justiça por calúnia e difamação. 

    Já ao franqueado de São Paulo, escreveu: "Ta para nascer macho que vai faltar com respeito comigo ! Tá pra nascer ! Se quiser conversar comigo igual HOMEM, você avisa :)". Na mesma discussão, reafirmou ser "espanhola".


    Na última quarta-feira, dia 8 de outubro de 2025, Bárbara enviou um comunicado ao grupo de franqueados que mantém, afirmando ser vítima de uma ação "orquestrada" por uma ex-colaboradora e franqueados insatisfeitos. Segue o texto na íntegra, obtido com exclusividade pelo Gabiiwee.com:

    "Estou enviando essa mensagem para todos os franqueados !


    Aliás agradeço muito o carinho e paciência de alguns ! Que de alguma forma estão acreditando em mim e no Gu !


    Vou ser muito sincera: eu sei que vocês não têm nada a ver com isso! Mas somos adultos, e venho, esse tempo todo, tentando ser o mais transparente possível, mostrando que estamos trabalhando e tentando resolver as questões jurídicas.


    Todos os distratos chegaram de uma só vez, orquestrados por uma ex-colaboradora, uma mulher do meio dos famosos que quis romper uma sociedade por puro luxo, junto com dois franqueados que, desde o início, já demonstravam querer colocar lenha na fogueira.


    Um deles chegou a trocar nossos rótulos pelos da marca dele, de cogumelos, com uma identidade visual muito parecida com a nossa.


    Esse grupo orquestrou, me ameaçou, montou grupos com franqueados e tentou, de todas as formas, assassinar minha reputação. Nos bastidores, me mandavam mensagens dizendo que não iriam parar enquanto eu não abrisse falência.


    Eu optei por resistir, seguir em frente e mostrar que meu propósito vai muito além de qualquer ameaça.


    Nós já tínhamos preparado estoque para rodar quatro novos produtos, maquiagens. Logo em seguida aos ataques, veio a Anvisa pedindo o recolhimento de todo o estoque de cosméticos. Mesmo assim, nós nos levantamos e sacudimos a poeira.


    Diante de todas as dificuldades, estamos passando dias e dias sem dormir, apenas pensando em resolver.


    Com a única certeza de que vamos honrar com todos os nossos compromissos. Porque, em todos esses anos, eu nunca precisei de um real de ninguém.


    Sei que todos têm pressa, que todos querem seu dinheiro. Mas será que já se colocaram no nosso lugar? Estão tentando nos tirar tudo, na maldade.


    Essa forma abutre de xingamento, de difamação, só prejudica tudo o que temos em andamento, tudo o que estamos aguardando para se resolver. Desde o início, essa pessoa de caráter duvidoso tenta trazer mais lenha para a fogueira.


    Esse “@” que ela marca de uma suposta “jornalista”, que na verdade fez jornalismo via EAD e usa o título para perseguir, caluniar e difamar, já acumula processos criminais, inclusive meus.


    Somos seres humanos deste lado também. Somos espanhóis e, se quiséssemos agir de má-fé, já teríamos feito. Poderíamos ter aberto falência e seguido as regras de quem nos ameaçou. Mas, ao contrário, estamos aqui todos os dias, pedindo um pouco mais de tempo, um pouco mais de empatia e gentileza.


    Sabemos que todos estão preocupados, que querem receber, e vamos pagar. Sabemos que querem datas reais, e estamos justamente correndo atrás disso.


    Mas o que essa pessoa e outra envolvida estão fazendo só vai prejudicar todos nós, eu e vocês. Já tentei explicar isso pra ela. Eu, sob ameaça, não funciono, não gosto. E acredito que o caminho longo da justiça é aquele que ninguém quer trilhar.


    Vocês só querem receber, e nós só queremos pagar. Mas não somos uma empresa gigante. Tínhamos um planejamento estruturado que foi rompido de forma brutal.


    Espero que vocês entendam que estamos do mesmo lado e que só queremos resolver. Porém, não temos como fazer mágica. Também fomos vítimas. Erramos em permitir que essa ex-colaboradora tivesse acesso total a todos os franqueados.


    Errei. Erramos. Mas em nenhum momento agimos de má-fé.


    Essa é a print dessa pessoa desrespeitosa, com ela vou resolver na justiça. Porém esse ‘assassinar reputação prejudica e atrasa muito’


    Sinto muito por tudo isso.
    Me sinto envergonhada, exposta, despida…"

    Nossa redação enviou pedidos de nota de esclarecimento para inclusão nesta reportagem para oito endereços de e-mail ligados à Hemp Vegan e ao casal. Apenas três e-mails foram entregues com sucesso. Todos os cinco endereços com o domínio @hempvegan.com.br não foram entregues devido estarem atualmente desativados, mas não obtivemos resposta. O espaço para manifestação e esclarecimentos permanece aberto.

    ATUALIZAÇÃO

    Após a publicação da reportagem, a empresa Hemp Vegan encaminhou ao Gabiiweed.com uma nota de esclarecimento. Confira a seguir o conteúdo integral do documento enviado.

    A Hemp Vegan valoriza o compromisso com a verdade, a ética e o devido processo legal, reconhecendo o direito à ampla defesa e ao contraditório. Todos os fatos relevantes são tratados de forma transparente perante as autoridades competentes, e já existem processos judiciais e boletins de ocorrência que contemplam a apuração exaustiva destes temas.


    Em virtude da recorrência de distorções e do uso seletivo de informações já documentadas em processos, preferimos não nos manifestar sobre alegações específicas fora do ambiente jurídico adequado.


    Reforçamos que não toleramos práticas de difamação ou produção tendenciosa de conteúdo que prejudiquem injustamente nossa reputação, colaboradores e clientes, e tomaremos todas as medidas cabíveis para salvaguardar nossa imagem e nossos interesses.


    Atenciosamente,


    Jurídico


    Hemp Vegan








    COMENTÁRIOS

    Buscar

    Alterar Local

    Anuncie Aqui

    Escolha abaixo onde deseja anunciar.

    Efetue o Login

    Recuperar Senha

    Baixe o Nosso Aplicativo!

    Tenha todas as novidades na palma da sua mão.